Tempos difíceis, estes, para um pintor. Pintar o quê? Como? Para quê?Imersos como estamos numa época em que tantas propostas artísticas acabam como meros artigos de decoração ou algo para distrair os entediados, define-se a Arte mais pelo que se rejeita do que pelo que se ama e procura.Só não está confuso quem não está bem informado.Questiona-se o que cada um faz, (não menos os próprios artistas), procurando medir valor com critérios que devem muito a teorias filosóficas e livros de história de Arte e pouco ao que corre nas veias, que faz sonhar e querer.Talvez tenha havido épocas em que os critérios eram mais facilmente identificáveis, e mais acessíveis ao resto da população. Ultimamente define-se pela negação, pelo que não parece, ou o hermetismo pedante mascarado de erudição. Este é um tempo em que ser artista requer convicções, não as da moda, do que “ está a dar”, mas da sinceridade e da humildade de seguir o seu instinto, sem medo de ser controverso, desagradável, ridículo até, de fazer o que dizem que não se deve fazer, ou mesmo (pior que tudo) fazer algo que a maioria das pessoas pode entender!Nesta paisagem insólita, onde sumos-sacerdotes da cultura ditam o que válido, incontornável, e de bom gosto, babilónia de tendências, mercados e vaidades, caminha Luís Zuluaga, espantada e visceral testemunha da aspereza da condição humana, olhando-a na cara, carregando no peito a fome de pintar isso mesmo, coisa que o motiva desde há muitos anos, atravessando meio mundo em busca de um terreno fértil onde pudesse fazer florescer a semente que trazia no coração.E assumiu a escolha de escalar os perigosos penhascos da arte figurativa, percorrendo o caminho que os seus pés procuravam, somente, sem especulações estéreis. Seguiu, assumiu o seu destino de pintor. Para pintar o que Luís Zuluaga pinta é preciso coragem. Vejam-se os seus quadros sobre a carne, ou mendigos, a sua violência contida, vinda talvez da vivência inquietante do seu país natal - a Colômbia - reflexos da fragilidade da nossa existência, daquilo que somos, da carne que somos. É coisa quase forte demais para este povo de brandos costumes, mas ele faz-nos encarar o abismo que mora em nós e ao mesmo tempo que nos choca, nos fascina e atrai.É esse entregar-se à chama, como mariposa nocturna, que é de admirar. Nesse desenrolar das imagens que Luís Zuluaga cria, encontram-se também motivos para esperança, pois no confronto com o que nos impressiona, podemos aprender algo sobre nós mesmos. Talvez valorizar as coisas boas, os momentos agradáveis, a nossa humanidade comum.Pintura assim é uma longa meditação; sobre as coisas, as obsessões, medos e desejos.Que siga, determinado, a sua trilha! Que mais nos irá mostrar no seu espelho? António Macedo2009